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Caros Senhores visitantes,
As
ferramentas estatísticas destes últimos dias têm-me revelado (pelas péssimas razões que muito lamento) um caudal
inusitado de visitantes, ansioso por "dar uma vista de olhos" ao
"pitoresco" universo das praxes "académicas", nem por isso tão
confidencial que não seja bem conhecido por milhares e milhares dos
"melhores" portugueses.
Agradeço a todos a preferência com que têm sido escolhidas algumas das mais "shocking"
captações do meu amigo Joaquim Santos, que só a ele pertence a glória
de tais documentos, por ter tido fígados e dureza de coração para
conviver com tais desplantes e tão deprimente falta de higiene (o que é que será que aquela miúda está a injectar pela boca abaixo?!...)
Já
agora, aumento um pouco o tamanho da letra das minhas crónicas que
publiquei em dois artigos de 2002 "nada meigos" a respeito da grande e
sempre "irreverente" vetusta academia (que eu sei bem que leram, mas fizeram de conta...).
Quanto às praxes (e a outras desgraças) estamos num lugar e num tempo em que os abismos parecem dizer-nos, bem contra a vontade da imensa maioria e regalo de uns poucos "iluminados", que não é esta ainda a última paragem do comboio fantasma que tanto medo mete e que há tantos e tantos anos rola, em gritos e solavancos, escuridão adentro...
falta foto, desculpas
.Estando patente ao público de 21 de Novembro de 2008 a 09 de Janeiro de 2009, inaugurou-se no restaurante "O Porquinho" em Coimbra,
uma exposição de fotografias do meu amigo Joaquim Santos.
No documento de apresentação da exposição pode ler-se um pequeno texto de minha autoria, o qual reza assim:
Joaquim Santos é um artista fotógrafo que associa às suas qualidades de interpretação visual a rapidez de reflexos dum verdadeiro “repórter” e documentarista que nunca nos deixa indiferentes perante a enorme variedade de temas que tem abordado ao longo da sua já repleta carreira.
Se acrescentarmos a essas valências a sua enorme familiaridade com as ferramentas de tratamento e divulgação de imagens que a actualidade tecnológica nos oferece, ficamos com a ideia que vale sempre a pena contemplar aquilo que nos dá a ver, seja qual for o motivo em apreço.
Não me é possível abordar aqui com o devido detalhe tudo o que me tem ocorrido ao longo dos tempos a respeito do fenómeno das "praxes académicas".
Certo é que qualquer fenómeno do mesmo tipo tem de ser encarado de acordo com o contexto em que se produz, ou seja, atendendo ao “caldo de culturas” que é denominador comum dos interessados/participantes respectivos. Se esse contexto for dominado por um vibrante sentimento agregador e determinado por um delicado equilíbrio entre o que é o sentido da festa e a dignidade livre dos participantes, tudo bem.
Aquilo que Joaquim Santos nos traz aqui é uma viagem através do fenómeno em causa que transcende o que vulgarmente aparece em milhões de “retratos” ad hoc espalhados pelos escaparates dos industriais do ramo.
As suas fotografias não carecem por isso mesmo, quanto à sua eloquência expressiva, de quaisquer esforços interpretativos. Conforme já disse noutro local a respeito deste seu trabalho “…é um testemunho penetrante e cheio de verdade sobre uma muito maior extensão dessa, apesar de tudo, mal conhecida realidade”.
Costa Brites/19 de Novembro de 2008
O conteúdo mais alargado do trabalho fotográfico de Joaquim Santos é visitável no seguinte endereço: Joaquim Santos-fotografia
falta foto, desculpas
Para que não restem dúvidas nem equívocos relativamente à minha visão das "praxes académicas", fenómeno teimosamente persistente nos "rituais de integração" das universidades (e não só...) abaixo se inserem dois extractos de coisas escritas por mim no Diário de Coimbra, em 2002:
“…A praxe, o que quer que seja
Passando há dias por um pátio universitário, alargava-se em círculo um grupo de jovens mulheres, ou meninas estudantes, conforme preferirem. Tudo seria normal se no meio delas, por terra, não se acocorasse meio estendida no chão uma outra estudante, eventualmente manchada pela "vil" condição de "caloira".
Celebrava-se daquele estranho modo, mais um, para mim incompreensível "ritual de humilhação", peça integrante dessa confusa e fragmentária mitologia a qual chamam "praxe".
Tolerância, paciência e a "dificuldade" sentida (ou vergonha, ou receio, ou... medo?) de rejeitar a desconfortável situação em que se encontra marcam a atitude da jovem que sentirá, por certo, grande alívio quando "tudo aquilo" tiver terminado.
A praxe poderia servir até como prática iniciática ao funcionamento imprevisível e contraditório da Escola – metáfora do país – naquilo que têm de menos bom, mas receio bem que nessa condescendência forçada estejam amassadas a submissão moral e a indiferença cívica que alimentam o "deixa andar" e o "quero lá saber".
Queria trazer-vos, por isso, alguns recados simples:
Apreciai o melhor possível a liberdade fugaz que a juventude vos oferece sem deixar escapar esse perfume raro que se esgota, para tantos, à entrada da idade adulta, mas sem deixar de pensar e valorizar o dia com aquisições seguras, com uma genuína vontade de aprender algo daquilo que pode não vir nos livros.
Direi, a cada um de vós para terminar por esta vez, aquilo que me apeteceu dizer à menina acocorada no chão, naquele dia de outono universitário:
–Levanta-te e caminha! Ninguém te obriga a rituais de humilhação, que camaradagem nenhuma vale, nem amigo nenhum merece!..."
“…Com festas e bolos…
Quanto ao sentido hipnótico dos festejos das queimas de fitas (das tradições…) que se afirmam cada vez mais industrializados, orquestrados como bons negócios, é bom que penseis:
Não estará a vossa Escola a tornar-se um pretexto para aproveitamentos medíocres e duvidosos, no seio de uma sociedade sonolenta, de instituições cúmplices que não cuidam, nem vêem nem avaliam, e de famílias perdidas em serões televisivos de grande audiência e no "tenho muito que fazer" e no "não quero saber das coisas dos estudantes para nada"?
Não estará a Academia e a Cidade e a Escola deixando que se instale uma enorme máquina que progressivamente toma conta, se assenhoreia e explora uma juventude entregue a si mesma, sem ter noção para onde navega, tolerantemente submissa e encantadamente alienada?
Não seria tempo, passados todos estes anos de democracia, que a Festa fosse mais essencialmente dos alunos estudantes, mais chegada a valores positivos, à cultura, ao encantamento juvenil e à beleza da idade, e não tanto um negócio de moda, de alcoóis à bruta, de mau gosto à descrição, de gente alheia a tudo que deveria ser a memória dos valores que valem, porque não se resolvem e esclarecem no oportunismo do barulho e dos patrocínios?...”
Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Novembro de 2002
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