Domingos de manhã passeados com vagar, fotografias, impressões e confidências feitas à cidade de Coimbra, suas casas e seus casos, seu rosto vivo, suas lágrimas e sorrisos.

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04 junho 2007

Passear Coimbra foi passar um fim-de-semana a Lisboa

Passear Coimbra foi passar um fim-de-semana a Lisboa.
Significa isto que “a cidade” é, mais do que um conjunto de lugares, um encadeado de vivências e percepções.
Esta e as outras Coimbras (porque há muitas: todas iguais, todas diferentes, como as pessoas que nelas habitam) encontramo-las onde soubermos e onde nos seja possível estar e aprender convivendo.
As cidades são amores difíceis.
Impõem-nos uma disciplina de dedicações múltiplas: um querer sabê-las, um querer vivê-las à medida dos meios de que dispomos.
E tempo que permita construir a memória.
E vozes que se cruzem com a nossa.
Mais do que morarmos nelas é necessário que morem elas em nós e tenhamos o privilégio de conhecer a suas múltiplas faces, as mais hospitaleiras e felizes, ou as mais contraditórias e dramáticas.

Na Cervejaria Trindade pode fotografar-se à vontade. Eles lá sabem porquê! (ver adiante, texto sobre os burocratas anti-imagéticos do Metropolitano de Lisboa)

falta foto, desculpas


Os grandes hipermercados da arte e da cultura, parece estarem cansados.
As políticas orçamentais (Oh, Deus meu, que de fortunas se poupam neste país em cultura e artes − até me espanta que haja deficits!...) fazem com que certas casas outrora repletas de acontecimentos estejam frequentemente inertes ou a meio-gás. Outros locais, por seu turno, prometem bem mais do que aquilo que deveras dão. (Isto é, não quer dizer que se gaste menos; gasta-se é doutra maneira, com outras coisas e com outros "protagonistas", como sabemos, não raro, até muito mais...)

É tempo, portanto, para revisitarmos aquelas coisas que são sempre novas, ou seja: as que fazem parte da cultura perene; lá, onde mergulham as raízes da memória colectiva.

Do terraço do zimbório da Igreja de Santa Engrácia, também oficialmente Panteão Nacional, olhando muito para lá de Santa Apolónia, da Madre de Deus e de Xabregas, descortina-se aquela ponte compridíssima que tem o mesmo nome dum dos homens que mereceu cenotáfio (ou memória de corpo ausente) no mesmo Panteão: Vasco da Gama!...

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Por este tempo, em Lisboa, é quando florescem as coleantes árvores da flor azul.

São mais que bonitas: enfeitiçam a paisagem com o sua cor exótica atrevidamente tropical, que não é tão serena nem tão profunda como o azul do céu; o que não é para admirar porque nada há que possa comparar-se à gloriosa profundidade do céu.

A árvore das flores azuis, que em Lisboa aparece ao mesmo tempo que a Feira do Livro, sabe surpreender como poucas; até o seu nome, inventado pelos Índios da Amazónia, é colorido e apetece dizer: Ja-ca-ran-dá!...
Para dar um aspecto de cultura a isto se dirá que o Jacarandá mimoso, ou Jacaranda mimosaefolia, é da família das Bignoniaceas. Mas mais não digo que me posso enganar.


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Sob a cúpula de Santa Engrácia repousam os restos mortais de figuras mitológicas, ressoando pelo majestoso espaço acordes sempre impressionantes de Mozart e de Beethoven, intervalados aqui e ali pelo timbre sumptuoso do canto de Amália.

Humberto Delgado, Marechal, repousa solitáriamente numa sala, austera como todas.

Amália é a única figura acarinhada com mimos permanentes: flores, mármores passados a pano e orações de íntima veneração.
A grande, a solene Amália, que bem me lembro do seu vulto negro sereníssimo, antes de entrar em palco, repousa na sala dos escritores, onde, nas horas secretas, sempre pode conversar com Garret, Junqueiro e João de Deus.

Na área mais nobre do templo, nos seus braços de cruz grega, ali estão os cenotáfios de Camões, de Nuno Álvares, do fero Albuquerque, do universal Gama e do misterioso Infante patrono das navegações.


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Olhando para poente é o poderoso edifício do Mosteiro de São Vicente de Fora que pode ver-se, e que vamos visitar de seguida.

À direita, o Campo de Santa Clara (vulgo Feira da Ladra), que outrora era espaçoso quando por lá passava e que agora parece que encolheu, como as larguíssimas e acolhedoras ruas onde brincávam os miúdos, feitas agora exclusivamente pistas de aceleração e estacionamento.



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Nos largos corredores de São Vicente de Fora está, desde Junho de 1999, uma surpreendente e magnânima exposição de painéis de azulejos!...

O edifício, já de si, é riquíssimo nessa modalidade de expressão artística, com escadas, corredores, claustros e muitos outros espaços ricamente cobertos por milhares e milhares de quadriláteros vidrados de cerâmica, pintados a azul e branco.

Agora está lá uma espantosa mostra de azulejos recuperados ilustrando as célebres fábulas de La Fontaine.

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Uma ávida curiosidade torna curto todo o tempo que lá possa passar-se de visita.

Algum desânimo ressalta da pouca divulgação e duma certa, digamos, modéstia da realização.
Catálogo, não há. Ou está esgotado, o que dá no mesmo.
Informou-nos um vigilante que “foram os Franceses”!...
Levaram tudo, porque La Fontaine lhes diz muito.

Mas os azulejos são “nossos” e a exposição está para ali, em todo o seu esplendor, faltando-lhe a orgânica e a divulgação de um enorme e, repito, surpreendente acontecimento artístico.

- Para quando a reedição do catálogo?...
- Ah, isso não sabemos!... A culpa é dos franceses: levaram tudo!...


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Este é um de trinta e sete painéis que documentam de forma opulenta as fábulas de La Fontaine. Neste caso: "A águia e a pêga".

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