Acerca de mim
sítios a visitar
06 maio 2007
Espírito Santo, uma romaria antiga muito desconfortável e a persistência conformada de quem a faz
.Para passear Coimbra, hoje, não tive de andar muito.
Fui até Santo António dos Olivais, que fica a um tiro de espingarda dos sítios onde moro, santuário de emocionadas devoções, igreja bonita que já foi singela e solitária e que agora é cada vez mais um local descaracterizado, como tantos.
falta foto, desculpas
.Esta imagem é, ainda assim, a visão mais aceitável do conjunto actual em que a finura branca do santuário se vê crescentemente subalternizado pelo empolamento de tudo aquilo que tem sido acrescentado à sua volta, esquecendo nós propositadamente o tolerado e sacrossanto caudal de veículos motorizados ali sempre presente quer em estacionamento quer em deslocação, o seu pesadíssimo viaduto, etc.
As casas velhas caiadas deram lugar a "uma coisa" amarelo-barulhenta com "aplicações" vermelhas e variedade de adornos que são o acompanhamento que poderíamos imaginar de menos adequado para aparecer ali.
As oliveiras, árvores que "dão luz ao mundo" tal como diz a adivinha popular, fazem neste declive coberto de relva pouco verde o favor de ocultar parcialmente essa desconfortável presença, dando a mão a um sem número de razões da tradição cultural mediterrânica e cristã que se associam à índole do local, ao seu nome e aos seus significados.
.
falta foto, desculpas.
Há uma vez por ano em que a tradição popular insiste em fazer-se sentir em torno deste santuário contra ventos e marés, pondo de pé a romaria do Espírito Santo que acentua de forma radical a alacridade contraditória vigente em todo aquele espaço.
Ainda assim, penso que a circunstância desconfortável de ela aparecer ali só uma vez por ano nada tem de reprovável, muito embora seja sobejamente clara a pouca adequação do espaço disponível para o efeito.
Para obviar a uma tal questão no seu plano global, teria que ter sido pensada em tempo útil, rodeada de empenho legítimo por quem de direito. Mas isso...
As pessoas que promovem a romaria, aliás, estão tão habituadas à exiguidade, ao acantoamento, à falta de condições, que se assim não fosse a romaria não seria o que é.
O povo que a frequenta, aliás, também iria estranhar e, quem sabe, já nem lhe daria o valor.
.falta foto, desculpas
.
Dito o que está dito, faltava-me passar o pórtico, subir as escadas, e completar a visita observando o muito que ali há para ver.
.Chegando lá acima, ao espaçoso terraço que ao lado da igreja se debruça sobre o cemitério adjacente, esquecem-se por encanto todos os aleijões e desacertos que vão cá por baixo atravancando a vista e o entendimento do lugar.
O horizonte que se abre à vista de quem ali vai é tão aberto e magnânimo que não se contam os minutos olhando os longes e apreciando como é enorme a beleza do DIA, cortina passageira de intensa claridade azul que nos esconde da grande noite sideral.
falta foto, desculpas
Fernando Martins de Bulhões, Santo António, os carrinhos de choque e as Farturas da Tânia
.
.
Passei vezes sem conta por Santo António dos Olivais antes das obras feitas, e é como aqui o "apresento" que o "via".
O sítio já não era (nem bem, nem mal) como está no desenho.
Na mente contudo fazia-o assim, de cal branca e céu despojado como certamente se viu no dia em que o "poverello" de Assis se desvestiu completamente perante seu pai Pietro di Bernardone, devolvendo-lhe o resto de tudo o que possuía, para se entregar a outro mundo - o seu mundo.
Não, não tenham medo que não estou a confundir António com Francisco: António é um e Francisco é outro, fazem parte da mesma ordem de imagens que dão corpo a uma certa ideia de catolicismo, terá sido um português, terá sido outro italiano, e não é aqui que se vai querer apurar a verdade verdadinha de um ser "nosso" e de o outro ser "estrangeiro".
Acaso levarão as almas bilhete de identidade ou passaporte para poderem entrar na imensidão dos céus? Acaso haverá por lá "santos portugueses" e "santos italianos"?
Acaso trataram disso os anjos guardiães do céu no dia em que, em sua glória ou suas penas, terão batido António e Francisco, pessoas como qualquer de nós, às portas do paraíso?!...
falta foto, desculpas
.
Os carrinhos de choque da minha infância, quando - uma só rara e espaçada vez por ano - a Feira de Março passava por Leiria, não eram propriamente o paraíso.
Mas tudo junto, o carrossel, o circo, as tendas brancas que vendiam toda a sorte de coisas e brinquedos coloridos de barro também, o poço da morte com a sua encenação assustadora, as barracas de tiro com umas raparigas que cheiravam demasiado a perfume e não ligavam a garotos pequenos como eu, se não eram o paraíso, andavam lá perto!...
.
No meu tempo, não havia Tânias e a barraca das farturas era só a "barraca das farturas".
Entrava-se lá para dentro a flutuar numa nuvem estonteante de açúcar, canela e massa frita em azeite, e a luz do dia filtrada pela lona colorida da cobertura dava aos rostos a cor de uma alegria surpreendente, inteiramente distinta da que se havia visto antes.
Outro pequeno detalhe confortavelmente inesquecível era o chão de terra frequentemente amaciado pela chuva de Março, completamente recoberto com serradura, que acrescentava ao ambiente modesto apenas mais um aroma riquíssimo, eco distante de pinheirais que não ardiam!...
.
falta foto, desculpas
.
Este banco pós-moderno de ferro cinzento triste, posto à ilharga da elegante Capelinha do Cruzeiro, que contém o valioso Cristo de João de Ruão, conhecido por "Cristo dos Olivais", nem é confortável para quem nele se senta nem vale uma pitada de açucar das farturas da Tânia.
Quanto a ser a escolha certa para figurar no "equipamento urbano" do santuário de Santo António dos Olivais, creio que nem tira nem põe na imensa variedade de objectos que por ali há, em acerto ou desacerto de embelezamento e comodidade.
.
O património artístico de Santo António dos Olivais; talha dourada e azulejos, um casamento português!...
.Uma casualidade feliz fez com que tivesse encontrado uma senhora minha conhecida, activa nas práticas de devoção daquela igreja.
Perguntou-me com toda a simpatia se queria visitar a sacristia, ao que respondi afirmativamente, por saber que é local de ver e rever, pela qualidade e valor do património ali existente.
.falta foto, desculpas
.
Tive o prazer de ser apresentado a Frei Adriano Zorzi, religioso oriundo de Itália que comigo conversou com imensa gentileza e me ofereceu um conjunto de documentos informativos e imagens respeitantes àquele respeitabilíssimo monumento.
.É num local como estes que se confirma de modo seguríssimo que a talha dourada e os azulejos azuis e brancos são uma associação prodigiosa que muito ilustrou as artes decorativas em Portugal.
Grandes templos de majestosa arquitectura e decoração sumptuosa não faltam por esse mundo.
A talha dourada e os azulejos azuis e brancos são, contudo, uma ideia muito abundantemente praticada em Portugal que afirmou as nossas artes decorativas num plano de vincada originalidade.
.
O património artístico de Santo António dos Olivais está apoiado nesse e noutros argumentos de muito valor, a pintura e o mobiliário por exemplo, que justificam bem uma visita demorada.
.Como ponto de partida para uma tal visita, não esqueçam os meus leitores em casa o lado desperto do seu olhar e o interesse artístico, que são muito mais importantes que a erudição pesadona, às vezes muito chata e completamente inútil no que toca à defesa real e concreta do nosso património de outros tempos, e da arte viva na nossa própria actualidade.
.Digo isso sem deixar de recomendar o site da igreja que está na net
http://santoantonio.com.sapo.pt/
Alerto além disso todos os visitantes deste blog que não adianta nada a um país e a uma sociedade presumirem de cultos e interessados em artes e tratarem tudo o que é património assim tão tosca e desajeitadamente como ali se vê em Santo António dos Olivais, o que de modo sintético se torna claro pelo pouco que aqui fica dito muito resumidamente, e demonstrado pela evidência das imagens.
.
.falta foto, desculpas
.
01 maio 2007
Passear e falar Coimbra, onde quer que ela seja
Saí hoje de manhã com uma dessas máquinas fotográficas que o consumismo tecnológico prodigaliza, que cabe bem no bolso e não pesa muito.
Cheguei a casa com um bom número de imagens e resolvi depositá-las aqui, com alguns comentários que qualquer um de nós faria, sem pretensões de espécie alguma.
Falar como quem passeia com um amigo, e acrescentar ao exercício matinal conveniente para a saúde essa outra utilidade: dar a ver o mundo a quem não foi também passear connosco, porque terá estado perto ou longe, talvez sem essa liberdade preciosa de poder andar pelas ruas sem preocupações de maior, em paz e desfrutando de saúde suficiente para o fazer.
Oxalá todos os que leiam estas linhas em partes distantes, ou mesmo aqui perto, possam fazê-lo sem mágoa nem desconforto.
Bom dia a todos pois, muito boa disposição e... atenção: continua no próximo número!...
Era assim que eu gostaria de ver-te sempre, Coimbra
Ampla, arejada, espaçosa de horizontes como me pareces quando vista de longe.
Para mais como estás aqui, à beira de serenas águas, com a paz de famílias atendendo seus meninos brincando.
Assim gostaria de te ver sempre, Coimbra: generosa, matinal, transparente e lavada pela fresca chuva da madrugada.
falta foto, desculpas
Ora até que enfim, uma escultura em Coimbra que não dá vontade de olhar noutra direcção...
Um dos achados mais felizes de todo o conjunto que actualmente acrescenta o antigo Parque Manuel Braga, ou Parque da Cidade de Coimbra, é este muro com cascata e repuxos, escultura de originalidade e bom gosto, cujo autor irei procurar saber, porque ainda desconheço.
Vale a pena ir lá, e deixar que a surpresa curiosa nos ganhe, na decifração do engenho subtil que lhe dá vida.
A água canta nas pedras e os véus de gotículas suspensas fazem-nos sonhar com arco-íris.
A pedra do muro, em fasquias, dá-lhe um toque vibrante que reforça a sua qualidade escultórica.
Bonito, em suma. E fresco, o que não é pouco numa cidade com verões tórridos.
falta foto, desculpas
O Tejo e o seu poder, o Douro e o seu mandar, e as águas do Mondego que já não lavam roupa a ninguém...
Naquele espaço, que alguns toscamente já baptizaram como “as docas” de Coimbra, na tendência redutora que nos permitiria uma aproximação vagamente insignificante do Mondego às oleosas águas do Tejo, também veio implantar-se o Pavilhão de Portugal, oriundo de Hannover, construído por uns senhores arquitectos que nem vale a pena dizer o nome porque toda a gente sabe quem são.
É uma sucursal de Serralves em Coimbra (aqui sobrepuseram-se imparavelmente à “competência simplória” das águas do Mondego o ascendente do Douro, suas caves e Ribeira) que por sinal está encerrada por falta de eventos, por falta de artistas, por falta de gente, por falta de ideias e… por uma desastrosa abundância de preguiça incompetente.
O enquadramento da fotografia que apresento é fracota, se pensarmos no edifício em si, e na sua implantação.
Mas a minha ideia foi apenas a de me aproximar dos painéis minimalistas mas amplamente expressivos de azulejos azuis e amarelos que revestem – como eco de vozes claras – duas paredes da notável edificação.
falta foto, desculpas
O oxigénio é imprescindível para o espírito!...
A gratificação para quem atravesse a nova ponte pedonal (com reservas para os resguardos respectivos que parece que foram comprados numa loja de chineses, demasiado technicolor pós-moderno para o entorno paisagístico) é poder ver isto que abaixo se mostra, mas sem ser em fotografia!...
A realidade, como é natural, é mais alta, mais larga e verdadeira, mais profunda e transcendente.
Pode parar-se ao meio e ficar ali a respirar fundo um pedaço.
Leva oxigénio até ao espírito.
falta foto, desculpas
A bicicleta, o prazer das duas rodas que só se tornam pesadas se a estrada é a subir...
Aqui, temos um pequeno desgosto:
Os hipermercados despejam bicicletas aos milhares para as garagens e vãos de escada de todos os cidadãos deste país que gostam de andar ao fresco, depressa e sem terem de pagar bilhete.
A ideia é excelente e, além de não ser poluente, levaria qualquer um para o trabalho com comodidade e proveito muscular... se a ciência urbanística tivesse aplicação entre nós!...
Quer dizer: o país pouparia milhões de contos em combustíveis, os cidadãos poupavam no carrito, ficavam com a perna menos fofa de celulites dispensáveis e... não atravancavam os parques de estacionamento com lata superflua. Só vantagens!...
No fim de semana é o que se vê: bicicletas a andarem por todo o lado, mas muitas vezes sem olhar a peões, como é este o caso.
A ponte é só para peões, ou é pista para ciclistas aos molhos?
Já viram como ele vão, todos "à larga", ocupando o espaço todo?Estava eu a tirar uma fotografia e, mal cuido, ia levando com um risonho e descuidado ciclista em cima!
E de quem seria a culpa? Minha, claro.
Ninguém me manda ter-me levantado tão cedo e estar ali, no caminho de um pelotão destes...
Moral da história: se há muitos ciclistas também teria de haver caminhos para eles poderem andar, sem correrem o risco de ficarem debaixo dos automóveis, nem andarem a disputar espaço aos peões!...
Vá lá explicar-se isto aos autarcas deste país, gente tão enlidada e absorvida por tantos afazeres!...
falta foto, desculpas
O espaço livre, uma solução sempre feliz
Para quem tenha dúvidas do que se afirma em título, é favor atravessar o rio Mondego e ir ali a Santa Clara olhar para Santa Clara-a-Nova, cá debaixo, junto do que foram os laranjais de Santa Clara-a-Velha.
falta foto, desculpas
Santa Clara, Santa Clara, a teus pés corre o Mondego... (e se o feio doesse?)
Atravessado o rio Mondego pela ponte pedonal (cuidado com os ciclistas!...) estão as margens em obras destinadas a uma das maiores indústrias da cidade: as suas Queimas das Fitas!...
O facto é que desde que estou em Coimbra (e já lá vão mais de trinta anos) nunca consegui atravessar o "basófias" com uma tão serena sensação de espaço liberto, vendo as margens ganhar algum verde, alguma ordenação dinâmica.
Ainda não está tudo pronto, mas as obras lá vão indo e outra agradável surpresa para quem vença a ponte é poder atravessar a movimentada “estrada de Lisboa” por uma passagem inferior.
Dali caminha-se até à rua que ladeia o Portugal dos Pequenitos, sempre vibrante de visitantes, até à viela ao lado do Casino da Urca que dá para a entrada dum monumento outrora ruína romântica afundada no seu berço de terras alagadiças, e agora lento estaleiro de obras.
Como não sou um forasteiro olho para aquela lástima e, por força d0 hábito, já nem pestanejo: a passagem para o monumento apresenta um estado perfeitamente “normal”.
A perspectiva da Universidade, vista daqui, fica um bocado destituída do merecido desafogo. Para compreenderem o que quero dizer, segue a fotografia junta:
falta foto, desculpas
Santa Clara-a-Velha, nobre monumento construído em terra branda, que se foi afundando, afundando...
Demoram as obras de restauro, mas lá vão indo, lá vão indo...
Vista deste lado, à luz do Sol e com aquele contraponto de nuvens pesadas lá ao fundo vejam como é absurda a cor rejuvenescida da pedra.
Nem parece antigo, o monumento, com suas telhas laranja novo parece uma vivenda de emigrante abonado.
A chuva e o tempo não tarda que o ponham de novo como era, soturno e grave.
Vá tempo, despacha-te!...
falta foto, desculpas
Nota posterior:
O comentário acima reporta-se à data em que foi escrito e está, felizmente, desactualizado.
As obras de requalificação deste importantíssimo património estão entretanto concluídas e podem (devem!...) ser por todos visitadas com proveito e prazer cultural.
.
Aqui fazem-se milagres no metal: Serralharia do Convento!...
Olhando em torno das obras de restauro do convento, ficamos com a alma cheia de sombras.
E não sabemos que dizer deste quadro deprimente, deste desleixo, deste desamparo, desta... pobreza (porque não dizê-lo, se essa parece ser a verdade mais gritante).
A única originalidade que faz rir é o "slogan" oportunista da serralharia.
Não só é "do Convento", como "faz milagres".
Com um louvável sentido de medida esclarece que apenas faz milagres no metal!... O que é grande pena, face à desastrosa situação da paisagem circundante!...
falta foto, desculpas
falta foto, desculpas
Atenção: continua no próximo número!...